Durante os meus atendimentos, percebo que os pais de uma criança que não come ficam angustiados, preocupados e com uma sensação de culpa.
Principalmente devido ao medo que seu filho fique abaixo do peso ou com deficiências de vitaminas e minerais que comprometam o seu desenvolvimento.
Ao se deparar com uma criança que não come, muitos pais não sabem como agir e muitas às vezes incluem hábitos inadequados, como por exemplo:
- Oferecer mamadeira caso a criança não coma;
- Deixar as crianças muitas horas sem comer para que tenha apetite;
- Colocar a criança para assistir televisão, tablet ou celular no momento da refeição;
- Dar brinquedos para as crianças se distraírem durante a refeição;
- Forçar a colher na boca da criança para que coma a comida;
- Andar atrás da criança com o prato de comida, a fim de que ela coma um pouco a mais;
- Oferecer recompensas caso ela coma a comida. Por exemplo: come tudo que dou uma sobremesa;
- Implorar para que seu filho coma;
- Deixar a criança por bastante tempo na frente da comida;
- Esconder os alimentos ou disfarçar de modo que a criança não saiba o que está comendo.
Quanto mais os pais agirem com uma criança que não come com distração, persuadindo, implorando ou forçando, mais difícil a alimentação se torna.
Dessa forma, a criança que não come terá experiências negativas com a alimentação.
Com toda a certeza ela começará a recusar outros alimentos ou irá chorar e tentar fugir no momento da refeição.
Criança que não come: entenda os motivos
Diversos são os motivos que levam as crianças a não comerem ou diminuírem seu consumo alimentar.
Além do nascimento dos dentinhos, sono, doenças dos mais diversos tipos, regulação do apetite, dietas monótonas ou liquidificadas, vômitos e engasgos com alimentos, como também fatores genéticos e comportamentais dos pais e da própria criança.
Essa perda de apetite pode ser passageira ou persistir por um tempo mais prolongado.
Por isso resolvi falar um pouco de desenvolvimento infantil para que você entenda o que é esperado para cada faixa etária e em seguida falaremos sobre genética.
Desenvolvimento infantil
Teoricamente aos 6 meses o bebê já está pronto para iniciar a Introdução Alimentar, mas às vezes não é bem assim.
Nem todos os bebês são iguais e no momento da refeição muitos deles poderão rejeitar, cuspir ou simplesmente fechar a boca.
Já outros poderão comer em grande quantidade.
O momento da refeição, principalmente durante a fase de Introdução Alimentar precisa ser conduzido com bastante paciência de modo que a família proporcione um momento feliz e tranquilo para a criança.
Uma refeição deve ser realizada com momentos de descobertas, pois é assim que as crianças aprendem e isto ajuda na construção da boa relação com a comida.
Aos 9 meses, em média, os bebês iniciam o movimento de pinça, mostrando que já estão aptos a pegar alimentos pequenos.
Portanto, é importante deixar a criança usar essa habilidade adquirida para que possa cada vez aprimorá-la.
Além disso, esse treinamento facilitará ainda mais sua autonomia para que o bebê possa comer sozinho.
Com 1 ano os bebês começam a andar, a velocidade de crescimento diminui e é normal comerem menos nesse período.
Com isso, mais do que nunca querem explorar o ambiente, mexer em tudo e descobrir o mundo.
Se a alimentação estiver chata a criança fará de tudo para sair do cadeirão e o momento da refeição passa começa a se tornar um tormento para muitas famílias.
A fase da “Mini Adolescência”
Entre 18 e 36 meses a criança entra em uma fase chamada “Mini Adolescência”.
Nessa fase a criança passa a se entender como um indivíduo e passa e expressar ainda mais as suas vontades e muitas vezes contrariando a família.
É muito comum nessa fase crianças fazerem birra, se jogarem no chão e frequentemente se recusarem a comer alguns alimentos que estão no prato.
Nesse momento é de extrema importância que a família mantenha os alimentos no prato, por mais que a criança não coma.
Essa exposição frequente diminui as chances de seletividade ou dificuldades alimentares.
É desaconselhado ficar perguntando o que a criança quer comer ou ficar dando opções.
Aos 2 anos as crianças são extremamente observadoras e imitam muitos as pessoas da sua família.
Se os hábitos alimentares da família forem muito diferentes da alimentação da criança a tendência é que a criança comece a ter os mesmos hábitos da família.
Nessa fase não adianta tentar enganar a criança, pois para ela mais vale um exemplo do que mil palavras.
Criança que não come: A influência genética na percepção de sabor e texturas dos alimentos
Um fato muito comum de uma criança que não come é que algum dos pais tenha tido esse tipo de problema na infância.
É provável também que na época esses pais tenham sido chamados de “chatos para comer”.
Crianças de pais seletivos podem ter nascido com uma quantidade maior de botões gustativos, ou seja, sentem muito mais o sabor ou a textura do que outras crianças e por isso se incomodam tanto.
Outras crianças apresentam uma hipersensibilidade em diversas partes do corpo.
Normalmente essas crianças apresentam desconforto ao colocar o pé na areia, colocar roupas com etiqueta e pegar em alimentos mais “melequentos”.
Desse modo fica mais fácil entender que algumas crianças não comem por frescura, mas sim porque se sentem extremamente incomodadas e com uma sensação muito ruim na boca.
Como aumentar as chances da criança comer de forma saudável?
Tudo começa dentro do útero materno, desde 16 semanas o bebê já sente os diferentes tipos de sabores por meio de líquido amniótico.
Deste modo, com uma alimentação variada a mãe já expõe o seu bebê a diversos tipos de sabores.
Quando o bebê nasce o leite materno é aromatizado de acordo com a alimentação da mãe.
Ou seja, isso permite que o bebê tenha mais experiências gustativas, o que facilitará a aceitação dos alimentos na introdução alimentar.
A importância de uma boa Introdução Alimentar
No momento da Introdução Alimentar os pais precisam ter paciência, pois é muito comum os bebês fazerem careta, ânsia ou cuspirem a papa.
Isso não significa que eles não gostaram, mas sim que podem simplesmente ter estranhado a textura ou o sabor.
Caso isso aconteça é importante que os pais se mantenham neutros e não ofereçam mais aquela papa no mesmo dia.
A insistência pode intensificar a rejeição ao alimento e fazer com que se estenda para os outros alimentos.
Algumas crianças precisam ser expostas ao mesmo alimento de 8 até 12 vezes para começarem a se acostumar e aceitarem.
Aos 9 meses as crianças começam a experimentar as papinhas com pedaços macios.
Crianças mais sensíveis assim que começam a perceber as diferentes texturas podem fazer ânsia ou vomitar e por consequência recusar todo o alimento.
E se a criança recusar os alimentos?
Se a criança apresentar esses sinais é importante que passe a lhe dar pedaços pequenos para que a criança possa pegar com a mão.
Nessa fase os bebês já apresentam o movimento de pinça e conseguem pegar pequenos pedaços de alimentos utilizando o polegar e o indicador.
Ao pegar os alimentos desse modo as crianças ficam entretidas e menos atentas ao gosto, pois como sentem o alimento na boca ficam mais disponíveis para aceitar a comida.
Desde o início da Introdução Alimentar é muito importante que os pais comam junto com seus filhos para que eles possam imitar e interagir.
Aos 9 meses, alguns bebês até antes, gostam de ficar com suas colheres nas mãos e o prato na sua frente para tentar se alimentar sozinhas.
É papel dos pais encorajar seus filhos para que tenham autonomia no momento das refeições, deixar que suas mãozinhas fiquem lambuzadas, sem limpá-las a todo momento para que fiquem mais entretidos com a comida e tolerem mais a sensação de umidade nas maõzinhas.
Em resumo, para ajudar seu filho a comer bem são necessários 6 passos importantes:
- A alimentação da mãe durante a gestação deve ser variada;
- Amamente e continue a ter uma alimentação saudável e variada;
- Na introdução alimentar, se o bebê fizer ânsia ou vomitar não ofereça aquele alimento no mesmo dia e evite reações bruscas, mantenha-se neutro;
- Aos 9 meses ofereça os alimentos em pedaços pequenos para que o bebê pegue com a pinça;
- Deixe o prato fixado com ventosa na frente do cadeirão e incentive que ele use a colher e as mãos para comer sozinho;
- Coma junto com seu filho!
Quais são as consequências a longo prazo da criança que não come?
Crianças que não comem podem ter diversas repercussões negativas no seu desenvolvimento, tais como:
- Dificuldade para falar;
- Deficiência de vitaminas e minerais;
- Déficit ou aumento de peso;
- Ansiedade no momento das refeições;
- Dieta limitada na escola, em festas ou em viagens.
É importante que os pais entendam que essa dificuldade pode melhorar muito com um acompanhamento especializado para melhorar a qualidade de vida do seu filho.
Como funciona o acompanhamento da criança que não come?
Isso vai depender de cada caso levando em consideração as causas e deve ser personalizado.
O acompanhamento muitas vezes demanda um certo tempo e requer bastante empenho da família.
A criança precisa voltar a ter uma boa relação com a comida e seus pais precisam incentivar a autonomia, proporcionando relações positivas no momento das refeições.
Muitas vezes o acompanhamento da criança que não come envolve o acompanhamento com outros profissionais como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Algumas vezes o uso de polivitamínicos prescrito por pediatra ou Nutricionista Materno Infantil se faz necessário para que possa trabalhar as questões comportamentais com mais tranquilidade.